Covid-19 – Suécia vs Portugal

By | April 4, 2020

Covid-19 – Evolução na Suécia vs Portugal

Por curiosidade, comparei a evolução da epidemia na Suécia e em Potugal. O número de habitantes é semelhante, embora a densidade seja muito distinta. Vale o que vale.
É uma comparação simples. Considerei apenas os indicadores Novos Casos e Mortes, dia a dia. Dados da worldometers.

Como é do conhecimento público, a Suécia adoptou uma estratégia muito distinta da nossa. Isolou os idosos e grupos de maior risco, mas deixou as restantes pessoas viver uma vida normal. Apenas começou por proibir eventos de mais de 500 pessoas, número que foi reduzido para 50, há cerca de uma semana.
Lojas e restaurantes mantêm-se abertos, apenas tendo sido proibido o serviço de balcão. As escolas mantêm-se a funcionar, tendo apenas encerrado as universidades que funcionam em regime de aulas remotas.

A Suécia optou pela via de obter imunidade de grupo (Herd Immunity) embora não comuniquem oficialmente, num curto espaço de tempo. Tal como o Reino Unido começou por fazer, embora estes tenham desistido por pressão política, enquanto a Suécia prosseguiu a sua estratégia.

Um dos motivos pelos quais a Suécia manteve este caminho, diferente dos outros países, é o facto de as medidas de saúde pública estarem sob a alçada de uma entidade independente do governo. A Public Health Agency não se guia pela opninião pública, pelo menos, não tanto quanto os políticos.

Curta entrevista com Anders Tegnell, Chief Epidemiologist da Public Health Agency da Suécia, responsável pela estratégia seguida:

Tegnell tem afirmado “I am very sceptical of lockdowns altogether but if you ever do them, you should do them at an early stage… (otherwise) they only pushed problems further down the road.”
“At certain times I suppose they can be useful, if you are unprepared and need more intensive care facilities, for example, but you are really just pushing the problem ahead of you.”
Locking people up at home won’t work in the longer term. Sooner or later people are going to go out anyway” He’s also repeatedly said it would be good for the Swedish population to gain immunity to the disease, though he’s flatly denied purposefully seeking “herd immunity.”

“The reason given by Swedish authorities is about resilience,” Peter Lindgren, the managing director of the Swedish Institute for Health Economics, said. “We may have to do this for a long time, and if you put all the heavy stuff in place at once, it will be quite difficult to maintain that. By having some measures in place and trying to be a bit more proportional, it’s possible to actually keep this under control.”

Há dias, confrontado com a estratégia de lockdown da Noruega, que tem menos mortes por habitante, Tegnell disse “The curve is significantly down there, much better than the curve looks in Denmark, for example. But it will be extremely interesting to see what happens when they relax it all. That’s what all countries are worried about. How do we get out of here when we have closed down the whole of society?”.

“Some experts estimated that as many as 4 million Swedes — out of a population of around 10 million — may eventually contract the disease. Swedish Prime Minister Stefan Löfven stated this week that “thousands” in his country will die from Covid-19.”
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Confesso que alimento uma certa esperança que a Suécia mostre que é possível controlar a epidemia sem medidas de confinamento tão pesadas como as que adoptámos. “Jag är svensk”.
Torço para que a Suécia mostre que se pode combater a epidemia sem sacrificar a liberdade. Como diz o chefe epidemiologista sueco, isto é uma maratona, não um sprint. Não é possível manter os confinamentos por tempo prolongado, sem causar danos incomensuravelmente maiores que os do virus. Temos de deixar passar o Inverno e a próxima Primavera para sabermos quem está certo. Só então se verá a diferença entre ter, ou não, uma % significativa da população imunizada.
Também se pode dar o caso de a epidemia já te infectado uma grande parte de nós, sem o sabermos – e então, temos o problema resolvido pela natureza, muito antes disso.
A alternativa, se a situação da Suécia se deteriora mais rapidamente que as outras, isso significa que provavelmente teremos de conviver com isolamento social por muito tempo.

Quanto à contagem de “mortes” comparando entre países. Nesta fase, acho que isso conta pouco. Existem critérios arbitrários entre o que se contabiliza como“morrer de covid-19” vs “morrer com covid-19 (entre outras morbidades)” – e diversos graus intermédios. No final, como em todas a epidemias de vírus, haverá estudos que farão uma revisão dos números com critérios mais científicos.

Outro aspecto importante a ter em consideração, para além do número de “mortes” é uma análise do desvio face a uma série temporal de mortalidade por faixa etária.
Para além das médias dos períodos, é necessário ver a evolução de períodos consecutivos, particularmente nas faixas etárias superiores, quando se aproximam da expectativa de vida – se não morrem num ano, morrem no seguinte, excluindo algum matusalem.
Na análise actuarial de uma população é comum fazer-se os cálculos em termos de diferenças para a expectativa de vida. No caso do Covid-19 isto é particularmente importante, pois são os idosos que estão predominantemente a ser afectados e a influenciar a mortalidade.
Já li a seguinte explicação para Itália. Explicará certamente uma parte, não tudo. O inverno de 2018/19 foi muito generoso, morreram muito menos idosos do que o expectável, pelos invernos anteriores. Também quase não tinha havido “inverno” de mortalidade em 2019/20. Isso foi um crédito, que pode estar agora a ser “consumido”. Nas primeiras semanas de Março a mortalidade 65+ anos estava alta, mas inferior a Janeiro2018. No caso de Portugal, també, os invernos 2018/19 e 2019/20 foram muito generosos, pode estar a acontecer o mesmo.
Quando se olha para estas tendências tem de se analisar com muito cuidado nestas faixas etárias, pois normalmente têm muitas morbidades que se adicionam. Até Ferguson, responsável pelo estudo do Imperial College, referiu que dos 20,000 mortos que previa pelo coronavírus, metade a 2/3 morreriam de qualquer forma até final do ano, de outras patologias.
Como nota anedóctica, diz-se que o tabaco “mata” milhares de pessoas. Agora é o coronavirus que está a fazer de executor. E isto não é totalmente despropositado, dada o elevada incid~emcia de complicações nos fumadores.

Covid-19 na Suécia vs Portugal

O primeiro caso da Suécia foi detectado no dia 26Fev (1 caso; 5 no dia seguinte); a primeira morte ocorreu em 11/Mar.
Portugal leva pouco mais de uma semana de atraso. Os primeiros casos foram detectados no dia 05/Mar (3 casos, e 4 no dia seguinte); a primeira morte ocorreu no dia 16Mar.

Abaixo coloquei o gráfico da evolução de PT e SW – Novos Casos e Mortes, dia a dia.
Na Suécia, tendo começado mais cedo, o número de casos não está a crescer tanto. A nível de mortes têm um pouco mais, o que é natural pois devem ter iniciado as infecções uma semana mais cedo.

Vamos precisar de mais umas semanas para termos dados mais consolidados. Certamente que especialistas em epidemiologia, que não sou, estarão atentos à evolução da epidemia nos vários países e tirarão as suas conclusões.

UPDATE:
Resumo do dia 20200404:
Novos casos – PT: 863; SW: 312 (provavelmente a Suécia estaá a testar menos; mas a tendência da curva é que é interessante).
Mortes – PT: 20; SW: 15 (ambos melhores que ontem, embora na Suécia a tendência de melhoria seja mais continuada e acentuada).
Resumo do dia 20200405:
Novos casos – PT: 754; SW: 387
Mortes – PT: 29; SW: 28