Mais um gesto infeliz de Trump.
O que mais lamento em Trump é o seguinte. Poucas vezes como agora, o mundo livre (Ocidente, democracias asiáticas e Oceania) precisou tanto de um estadista que nos unisse na defesa dos nossos valores contra o autoritarismo e as ditaduras. Esse papel costumava caber ao ocupante da Casa Branca. Infelizmente, esse lugar está ocupado por um narcísico megalómano, que me parece mesmo um caso borderline de sociopatia.
Trump curou alguns excessos das administrações anteriores, nomeadamente da de Obama – intervencionismo económico, excesso regulatório, radicalismo do politicamente correcto. Mas agora, está a fazer muito mal à sociedade americana e às relações internacionais.
Em lugar de pensar no mundo livre, pensa em si, fala para os seus 40% de eleitores americanos – e os outros que se danem. Usa e abusa de slogans nacionalistas que afastam quem não é da sua tribo – “América First”, MAGA, etc .
É uma pena que o país que liderava o Mundo Livre, se tenha tornado numa fortaleza “Make America Great Again”, virada para dentro, que já não defende a democracia liberal, que não distingue aliados de adversários. Trump não tem perspectiva história. Não distingue aliados naturais e históricos de adversários. Vê todos como adversários, indiferente a valores. Fala do comércio internacional como se fosse uma guerra com vencedores e vencidos.
Agora que estamos sob ameaça de uma Guerra Fria contra o tecno-totalitarismo chinês, em que as armas são tecnológicas, não podemos contar com os EUA para unir e liderar o mundo livre e democrático. Pelo contrário, o ocupante da Casa Branca tem procurado dividi-lo para ganhos internos. Infelizmente, as alternativas internas, que vemos nos EUA ,não são entusiasmantes.
Que saudades de Ronald Reagan. Aqui Reagan discursa pela última vez como presidente, em Janeiro de 1989:
Quando eu era jovem, aprendi a apreciar os EUA, sobretudo quando Ronald Reagan foi presidente. No início, surpreendeu-me ver um actor chegar à presidência. Depois, Reagan impôs-se como um verdadeiro leader do Mundo Livre e da democracia liberal. Derrotámos o comunismo soviético, pelas ideias e pela economia. O muro de Berlim acabou por cair, e muito se deve a Reagan. Que diferença para o actual presidente MAGA Trump. E, também, para os mediocres antecessores deste.
Tenho amigos que apreciam Trump, por ter combatido o politicamente correcto e que se queixam, com razão, da forma enviezada como tudo o que sai da actual Casa Branca é denegrido pelos media. Isso é verdade. E o abuso do ad hominem, argumentum ad Trumpum, é muito comum, sobretudo pela esquerda. “He’s playing Trump’s game” – já me atiraram isso à cara várias vezes.
Mas também é verdade que o próprio Trump alimenta-se desta polarização.
Se se critica Trump é porque se é “pró-Obama”, ou “anti-Trump”, etc., num “quem não está connosco, está contra nós”.
Ver que ele por vezes acerta e, por outras vezes falha, não encaixa numa tribo, nem na outra.
Trump tem este superpoder: Polarizar. E, se o Incredible Hulk se torna mais forte com a raiva, Trump ganha forças com a polémica, a divisão e a polarização.