Covid-19 e Confinamentos – 2 visões em confronto

By | April 26, 2020

Covid-19 e Confinamentos – há 2 visões em confronto.

Uma recente troca de comentários entre amigos, levou-me a tentar colocar esta questão nos termos que me parecem mais claros.
Acho que a questão principal está no confronto entre duas visões distintas. Elas foram bem expressas recentemente, por reputados cientistas portugueses destas áreas – epidemiologia e virologia.

1. Esta, de Isabel Ferreira, professora de epidemiologia na Faculdade de medicina da Universidade de Wollongong, na Austrália, que se resume nesta frase (cito):”Citando um colega australiano: “To some, herd immunity may still sound idyllic, but it requires us to sacrifice the vulnerable on the altar of the economy in truly vast numbers”.”
https://www.rtp.pt/noticias/mundo/nos-e-o-virus-quando-podemos-voltar-ao-estado-pre-covid-o-olhar-e-as-explicacoes-da-epidemiologista-isabel-ferreira_n1223224

O que falta nesta visão é o que fazer depois do confinamento. Ir de lockdown em lockdown? Há outra solução que evite novos surtos?

2. E esta, que é defendida pela directora do IMM, Maria M. Mota, também reiterada pelo investigador Pedro Simas do mesmo instituto:
https://observador.pt/2020/04/18/nao-entrem-em-panico-virus-e-relativamente-bonzinho-diz-maria-manuel-mota-diretora-do-imm/
“O virologista e investigador do Instituto de Medicina Molecular defende que o próprio vírus é a solução, que o único caminho é a imunidade de grupo e vê na sociedade um “excessivo medo de morrer”. Esperar pela vacina em confinamento total “é humanamente impossível”, alerta”
https://expresso.pt/sociedade/2020-04-25-Covid-19.-Pedro-Simas-virologista-Estamos-no-principio-dos-principios-da-epidemia

A essência desta perspectiva é assumir que não vamos conseguir eliminar o virus, pelo que teremos de aceitar conviver com ele, tomando como natural haja mais mortes.

Muitos outros cientistas de grande reputação internacional se pronunciaram sobre esta questão. Parece-me que todos equacionam a questão nestes mesmos termos. Uns inclinam-se mais para uma visão, outros para outra. Outros ainda, equacionam o problema sem tomarem posição.

Ora, são estas duas perspectivas opostas que importaria discutir – sobretudo entre especialistas. Para depois formarmos a nossa opinião.
Dizer que a ciência está de um lado ou do outro, é errado. A ciência, na melhor das hipóteses e após um debate informado, consegue explicar a situação e expôr uma previsão, sempre falível, do que pode vir a acontecer.
A opção sobre o que fazer é política.