Leonard Cohen – um dos músicos que mais apreciei

By | April 29, 2020

O meu amigo Helder Ferreira lançou um desafio no facebook, para coolocarmos os 10 álbuns que mais influenciaram o nosso gosto musical, 1 por dia. Só passei para aqui este, que é o #9, e o mesmo farei com o #10. Os restantes estão na lá minha página.

The Best of Leonard Cohen, Leonard Cohen (+ Live in London, 2008)

Os albuns originais de Leonard Cohen não lhe fazem justiça. Leonard Cohen tem de ser avaliado ao longo da carreira de muitas décadas.
Este “The Best of Leonard Cohen” saiu em 1975 e acompanhou-me ao longo de muitos anos, primeiro em cassette, que gravei do vinil. Depois em CD. Mas não posso reduzi-lo a este álbum.
Mais que um músico, Leo Cohen foi poeta e um trovador dos tempos modernos. Não conheço poemas musicais melhores que os seus, sujeitos a interpretações diversas e ambíguas, que ele nunca quis esclarecer. O mais provável é que, na maioria dos casos, não a tivessem.

Sempre fascinado pela religião, sobretudo a judaica, embora fosse agnóstico. A curiosidade pela religião foi uma constante a inspirar os seus poemas, acabando por aderir ao budismo. Mas mesmo depois disso, a influência judaica manteve-se presente nos seus poemas.

Foi sempre actual, adaptando a musicalidade, a instrumentação e os arranjos, de grande qualidade. Mas mantendo a profundidade dos seus poemas. Foi sempre um tipo “cool”, não há como dizê-lo de melhor forma.Aos 73 anos, Cohen foi forçado a abandonar um retiro Zen budista na Califórnia, onde tinha sido ordenado anos antes e onde estagiava regularmente. Teve de refazer as suas finanças. A sua manager financeira – e ex-amante, Cohen mantinha uma lista de amigas ex-amantes (nem sempre é recomendável) – tinha-o defraudado ao longo de muitos anos, enquanto ele estava arreadado das coisas materiais nos seus retiros. Teve de voltar a fazer música e a percorrer o mundo para dar concertos ao vivoIsto foi um brinde para os seus apreciadores. Cohen iniciou uma nova fase de grande criatividade e produção musical Já septuagenário, mas sempre cool, brindou-nos com músicas fantásticas, e lindos poemas musicais, alguns dos melhores da sua carreira. Um dos que mais me impressiona é este Amen, que saiu no album Old Ideas, de 2012. Segue o estilo de uma oração judaica, possivelmente com alguma ligação ao holocausto.

Nesse mesmo ano, ouvi-o ao vivo em Lisboa, tinha ele 78 anos, num excepcional concerto de 3 horas. Não conheço uma boa gravação desse concerto. Mas existe um fabuloso DVD com um concerto que deu em Londres uns anos antes, practicamente com os mesmos temas. My Gipsy Wife, com uma introdução da fantástica guitarra de Javier Mas.

Esta selecção de músicas tem-me permitido recuperar boas memórias, enquanto as ouço no spotify. No Domingo passado, passei algumas boas horas nesta agradável actividade, recuperando recordações. Saudoso de Leonard Cohen, revi alguns documentários e entrevistas dele. Motivado por debates actuais, revisitei a forma como ele lidou com o aproximar da morte que foi notável. Uns meses antes de morrer, quando a ex-namorada Marianne estava no leito de morte escreveu-lhe:
“Know that I am so close behind you that if you stretch out your hand, I think you can reach mine.”
Menos de um mês antes de morrer deu uma entrevista que se pode resumir em “Leonard Cohen: ‘I am ready to die’
https://www.theguardian.com/music/2016/oct/12/leonard-cohen-i-am-ready-to-die

Uma curiosidade. Leonard Choen viveu grande parte da vida numa casa no Parc du Portugal de Montreal. Era essa a que chamava a sua residência, embora tivesse passado largos períodos noutras paragens. Nomeadamente na ilha de Hydra, na Grécia, onde viveu grande parte dos anos ’60, quando iniciava a carreira como escritor e poeta. Cohen era de uma família judaica enraizada no bairro judeu de Montreal, cuja comunidade foi fundada por judeus portugueses em 1768.

“There is a crack in everything. That’s how the light gets in.”

Nunca se quis assumir como poeta, por humildade, mas tinha tiradas inigualáveis, como.

“Poetry is just the evidence of your life. If your life is burning well, poetry is just the ash.”

Terminei aqui os albuns de música pop, rock e outras géneros modernos. Escolhi as que mais me marcaram, ficaram muitas outras por referir, nomeadamente os Rolling Stones, The Beatles, Bob Dylan, Elvis Presley (um fantástico performer que descobri mais tarde), e muitos outros. A partir de certa altura, a música clássica passou a ocupar a maior parte da minha vivência musical, ultrapassando as outras formas.