Neste momento, já sabemos o suficiente sobre o sars-cov2 para não ser aceitável que nos deixemos guiar pelo medo. A estratégia de defesa face à pandemia sars-cov2 mereceria uma reflexão profunda por quem de direito. Algumas notas, suscitadas pelo acompanhamento dos últimos desenvolvimentos que tenho visto sobre o tema, do ponto de vista científico.
Estamos numa cauda longa, após o pico (só o primeiro pico, ou o pico?) da pandemia covid-19, que ocorreu entre Março e Abril, na generalidade dos países europeus. Estamos em plena época alta do turismo, com os fluxos muito reduzidos, o que põe em causa este importante sector da nossa economia. Mantêm-se bastantes restricções às viagens, que afectam fortemente Portugal, muito mais do que seria expectável, à luz do número de vitimas, comparativamente com outros países.
A estratégia de testes (PCR) não está clara, muito menos consistente, entre os diversos páises, mesmo dentro do espaço europeu. Os casos que se detectam por cá são, na sua vasta maioria, assintomáticos e ligeiros. Os serviços de sáude registam números reduzidos de doentes com sintomas severos (menos de 70 em UCIs desde há dois meses) e o número de mortes diárias por (ou com?) covid em todo o país tem andado entre 2 e 6 desde há mais de um mês – para um total de 270-300 mortes diárias por todas as causas.
Enquanto isso, o excesso de mortalidade face ao normal tem aumentado muito nas últimas semanas. As ondas de calor vieram, provavelmente, agravar a situação de atrasos em tratamentos e consultas que se tem registado desde o início da pandemia.
Suspeita-se, embora estes dados não sejam conhecidos (porquê?) que a maioria dos casos detectados de covid apresentam cargas virais muito reduzidas, abaixo do limiar de transmissibilidade.
Entretanto, os diversos países utilizam os números de novos casos, de forma pouco coordenada, para determinarem os “corredores aéreos” e as restrições de entrada de passageiros. O governo português parece não ter protegido o interesse das diversas regiões (nomeadamente o Algarve e o Norte) que estão a ser seriamente afectadas por estas restrições, devido a um “surto” que tem ocorrido apenas na AML.
Estudos recentes indicam que os testes PCR conseguem apanhar concentrações virais muito reduzidas, muito abaixo das que representam risco de transmissibilidade. Basta existirem vestígios de RNA inactivos para os testes darem positivo. Acresce que os testes PCR são caros e os resultados tardam dias.
Estão em fase final de desenvolvimento testes de muito baixo custo e que dão resultados em minutos. Apresentam sensibilidade mais baixa – não detectam cargas virais tão reduzidas. Mas – e aqui entra a aprendizagem dos estudos mais recentes – detectam cargas virais que coincidem razoavelmente com o limiar estimado de transmissibilidade na vasta maioria das pessoas. Claro que uma carga inferior tanto pode ocorrer na fase ascendente da infecção, como na descendente (recuperação). Mas esta última é muito mais longa, podendo passar-se vários meses “positivo”, devido a vestígios de RNA, embora em estado de não transmissibilidade. Como estes testes são baratos (1-2 USD) é possível fazê-los em dias seguidos para nos indicarem a fase da infecção.
O Dr. Seheult explica bem esta questão, em mais um dos seus excelentes vídeos da MedCram. Ele, bem como o Dr. Mina, propoem uma alteração profunda da estratégia de testes, bem como a abertura mais rápida das actividades económicas e das escolas.
“Coronavirus Pandemic Update 98: At Home COVID-19 Testing – A Possible Breakthrough”
The current COVID-19 testing strategy in the United States is estimated by the CDC to pick up less than 10% of infections. Dr. Seheult of MedCram.com features snippets from a recent This Week in Virology (Episode 640) with Dr. Michael Mina of Harvard who explains that the technology exists for at home, inexpensive, self-administered, “paper” COVID-19 tests that are likely accurate enough to pick up the vast majority infectious cases of COVID-19. And how lower sensitivity of inexpensive tests may be ideal for a screening test that is performed with high frequency. Utilization of paper type COVID-19 tests may provide the optimal path forward to curtail the growth of COVID-19 and open schools and our economy in a much safer way. (This video was recorded July 20, 2020).
O gráfico abaixo indica as cargas de detecção dos testes PCR (CT) e dos novos, bem como do limiar de transmissibilidade do vírus. Nota: O CT é inversamente proporcional à carga viral. O sars-cov2 só se transmite com cargas virais correspondentes a CT igual ou inferior a 30.