“O Lento Esquecimento de Ser” de Miguel d’Alte
Há muito tempo que não tinha desfrutado tanto dum livro de ficção. Depois de muita não ficção, sobre temas a que não consigo fugir, já me estava a fazer falta uma viagem pelo imaginário da vida.
O prazer da leitura resulta de toda a experiência envolvente e das circunstâncias em que mergulhamos nela.
Há pouco mais duma semana, passando na FNAC, vi anunciada a apresentação dum livro que me deixou curioso – “O Lento Esquecimento de Ser”, primeiro romance de Miguel d’Alte, um jovem autor portuense de 30 anos. Folheei o livro enquanto tomava um café e fiquei curioso com o enredo e, sobretudo, com o estilo de escrita, escorreito e seco. Pensei que talvez pudesse ir nessa noite conhecer o autor. Infelizmente, falhei.
Uns dias mais tarde, passei na FNAC para adquirir o livro. Li-o em dois lanços, separados por uns dias de afazeres. Há muito tempo que não lia um livro que me prendesse assim. Talvez desde Serotonin, de Michel Houellebecq. Aliás, a escrita do Miguel lembra-me irremediavelmente este último autor (ele mesmo confessa a sua influência).
A história decorre entre uma pequena vila francesa, Paris e Porto, em 4 épocas distintas, percorrendo a ocupação alemã na 2ª guerra, o pós guerra, as revoltas estudantis parisienses de 1968 e o final do século. O personagem principal é o escritor Henri Benoît, que se celebrizou no início dos anos ‘60, participou no Maio de ‘68 e desapareceu depois, durante mais de 30 anos.
Mas o que ressalta é o estilo de escrita, directo e cru, com frases curtas. Uma lufada de ar fresco para um leitor, como eu, que aprecia pouco os maneirismos em que a literatura moderna se embrulhou. Apreciei também a forma em que os discursos directo e indirecto se entrelaçam, mas sem prejudicar a identificação dos personagens (ou, talvez, muitas vezes, fazendo-os unir).
É óptimo sentirmos que temos jovens autores tão promissores. Vou aguardar a próxima obra do Miguel, anunciada para este ano.