É curioso ver como muitos querem a mutualização dos custos (que é o outro lado da dívida) a nível europeu. Mas esses mesmos, não querem mutualizar os seus rendimentos (no fundo, que paga os custos) com os novos desempregados, vítimas do confinamento – os trabalhadores das PMEs, pequenos e microempresários e etc. Nem se oferecem para mutualizar o endividamento a que estes se vêm obrigados ao perder os seus rendimentos.
Ou, como uma amiga comentou no meu post do facebook, “quem defende coronabons devia praticar o “coronafiança”: ser fiador de quem reduziu os rendimentos e está a endividar-se”
Crédito devido a Jorge Marrao, pelo excelente post que me inspirou esta reflexão.
https://www.facebook.com/jorge.marrao.3/posts/2846367388765419
NOTA adicional, para esclarecimento:
Mutualizar dívida é mutualizar os Déficits.
Porque Dívida = Deficit passado + presente.
Ora, Deficit = Custo – Receita.
Logo, mutualizar Dívida, é como mutualizar Custos e Receitas.
No caso da emissão monetária (que alguns vêm como o milagre dos pães):
Emissão de moeda, é Dívida de quem emite – o BCE, que é por natureza “mutualizado” entre os países da eurozona.
E, se houver investidores que comprem a Dívida (eurobonds):
Dívida de uns é Crédito de outros (neste caso os que têm Poupança acumulada ou que têm capacidade de emitir dívida).
Cada Euro em circulação é um Euro de passivo no balanço do BCE.
Esta conversa, relatada por R.Murphy, ficou célebre. Aplica-se a qualquer banco central no regime de moeda fiduciária. Eccles era governador do Fed em 1941. Patman era Chairman do House Committee on Banking and Currency do Congresso. A sessão era um “hearing” sobre a grande depressão e como o Fed obteve dinheiro para comprar government bonds.
“ECCLES: We created it.
PATMAN: Out of what?
ECCLES: Out of the right to issue credit money.
PATMAN: And there is nothing behind it, is there, except our government’s credit?
ECCLES: That is what our money system is. If there were no debts in our money system, there wouldn’t be any money.”